Sat 30 Sep 2017 02:00:50 PM -03
- Autor: Erich Fromm.
- Ano: 1956.
- Íntegra.
Trechos
O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem,
consciência de si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de
seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a
consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido
sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de
morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua
solidão e separação, de sua impotência ante as forças da natureza e da
sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão
insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e
alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o
mundo exterior.
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a união com o grupo é o modo predominante de superar a
separação, É uma união em que o ser individual desaparece em ampla escala,
em que o alvo é pertencer ao rebanho. Se sou como todos os mais, se não
tenho sentimentos ou pensamentos que me façam diferentes, se estou em
conformidade com os costumes, idéias, vestes, padrões do grupo, estou salvo;
salvei-me da terrível experiência da solidão.
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não importando que esse uso fosse cruel ou “humano”.
Na sociedade capitalista contemporânea, o significado de igualdade
transformou-se. Por igualdade, faz-se referência à igualdade dos autômatos,
dos homens que perderam sua individualidade. Igualdade, hoje significa
“mesmice”, em vez de “unidade”. É a mesmice das abstrações, dos homens
que trabalham nos mesmos serviços, têm as mesmas diversões, lêem os
mesmos jornais, experimentam os mesmos sentimentos e as mesmas idéias.
[...]
A sociedade contemporânea advoga esse ideal de igualdade não individualizada,
porque necessita de átomos humanos, cada qual o mesmo, a fim de fazê-los
funcionar numa agregação de massa, suavemente, sem fricções, obedecendo todos
ao mesmo comando e, contudo, convencido cada qual de estar seguindo seus
próprios desejos. Assim como a moderna produção em massa exige a padronização
dos artigos, também o processo social requer a padronização do homem, e tal
padronização é chamada “igualdade”.
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Mesmo seu funeral, que ele antevê como o último de seus grandes eventos
sociais, está em estreita conformidade com os padrões. Além da conformidade
como meio de aliviar a ansiedade que nasce da
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Quase não é necessário acentuar o fato de que a capacidade de dar
depende do desenvolvimento do caráter da pessoa. Pressupõe o alcançamento
de uma orientação predominantemente produtiva; nessa orientação a pessoa
superou a dependência, a onipotência narcisista, o desejo de explorar os
outros, ou de amealhar, e adquiriu fé em seus próprios poderes humanos,
coragem de confiar em suas forças para atingir seus alvos. No mesmo grau em
que faltarem essas qualidades é ela temerosa de dar-se — e, portanto, de amar.
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Cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento são mutuamente
interdependentes. Constituem uma síndrome de atitudes que vamos encontrar
na pessoa amadurecida, isto é, na pessoa que desenvolve produtivamente seus
próprios poderes, que só quer ter aquilo por que trabalhou, que abandonou os
sonhos narcisistas de onisciência e onipotência, que adquiriu humildade
alicerçada na força íntima somente dada pela genuína atividade produtiva.
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Problema: considera o homossexualismo como desvio e fracasso.
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Segurança, prisão.
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