Sat 30 Sep 2017 02:00:50 PM -03
Geral
- Arqui-racionalidade, 59.
- Simplificar <-> complexificar, 72-73.
- Techne, 196.
- Gênio, 204.
- Tomada de consciência, 212.
- Auto-análise, 216 (mas não só nessa página).
- Idealismo: tomar a idéia pelo real, 248.
- Racionalização: encerrar o real num sistema coerente, 248.
- Auto-engano (self-deception), 249.
Paradoxo essencial do cérebro-espírito
O que é um espírito que pode conceber o cérebro que o produz, e o que é um
cérebro que pode produzir um espírito que o concebe?
-- 84
Princípio hologramático, holográfico
Daí a riqueza das organizações hologramáticas:
a) as partes podem ser singulares ou originais, embora dispondo de aspectos
gerais e genéricos da organização do todo;
b) as partes podem ser dotadas de autonomia relativa;
c) podem estabelecer comunicações entre elas e realizar trocas organizadoras;
d) podem ser eventualmente capazes de regenerar o todo;
No universo vivo, o princípio hologramático é o princípio essencial das
organizações policelulares, vegetais e animais; cada célula permanece singular,
justamente porque, controlada pela organização do todo (ela mesma produzida
pelas interações entre células), uma pequena parte da informação genética nela
contida se exprime; mas ela permanece ao mesmo tempo portadora das
virtualidades do todo, o que poderia, eventualmente, atualizar-se a partir
delas; assim, seria possível reproduzir por clonagem o ser inteiro a partir de
uma célula mesmo extremamente especializada ou periférica do organismo.
-- 115
Concepção: dialógica da analógica <-> lógica (digital)
As analogias organizadoras permitem a formação de homologias que suscitam
princípios organizadores. O raciocínio por analogia faz logo parte do caminho
que leva à modelização e à formalização, mas sob a condição de obedecer à
dialógica do analógico, do lógico e do empírico, ou seja, ao controle da
verificação dedutiva e da verificação empírica. Assim, constitui-se uma onte do
concreto ao abstrato e do abstrato ao concreto através da qual se tece e se
cria a __concepção__, insto é, um novo modo de organizar a experiência e de
imaginar o possível. Em consequência, reencontramos, no próprio procedimento
científico, mas de explícito, razoável e consciente, os métodos de
conhecimentos por isomorfismo, homeomorfismo e homologia que o aparelho
cognitivo utiliza espontânea e inconscientemente no conhecimento perceptivo e
discursivo.
-- 157
A analogica é iniciadora, inovadora (Peirce indicou que a inovação jorra quase
sempre da analogia), inclusive na invenção científica. Alimenta uma ligação
entre concreto e abstrato (via isomorfismos, tipologias, homologias) e entre
imaginário e real (via metáfora). Essas pontes, como já indicamos, estimulam
e provocam a __concepção__, isto é, a formação de novos modos de organização
do conhecimento e do pensamento.
-- 158
Inteligência artificial
No estádio evolutivo atual, o conhecimento por computador continua um apêndice
operacional do conhecimento humano; ainda não se trata do primeiro modelo de
um conhecimento sobre-humano. Não é proibido imaginar, para o futuro, máquinas
cognoscentes, artificiais no começo, e depois auto-organizativas e dotadas
de individualidade. Mas elas se tornariam então novos seres-sujeito que gozariam
e sofreriam com os seus conhecimentos, produziriam, talvez, os seus próprios
mitos e poderiam então manipular as coisas ou mesmo os seres humanos.
-- 226
Limites do conhecimento
O problema da caverna permanece. O problema da câmara fechada continua. Mas
sabemos doravante que a caverna nos permite ver sob a forma de sombras o que,
fora, nos cegaria; a câmara fechada, onde o cérebro permanece encerrado,
permite ao espírito abrir-se ao mundo sem se aniquilar.
-- 240
Nessas condições, somos aparentemente conduzidos à definição tradicional da
verdade: a adequação do espírito à coisa. Mas é preciso complexificar:
como a coisa é co-elaborada pelo aparelho cognitivo, vale mais conceber o
conhecimento como adequação de uma organização cognitiva (representação,
idéia, enunciado, discurso, teoria) a uma situação ou organização fenomenal.
Tal adequaçã não é evidentemente a de um "reflexo", mas o fruto de uma
reprodução mental. Tal reprodução não constitui a cópia, mas a _simulação_,
nos modos analógicos/homológicos, dos objeto, situações, fenômenos,
comportamentos, organizações.
Assim, a representação e a teoria podem ser consideradas, cada uma do seu
jeito, como uma reconstituição simuladora, uma concreta/singular, a outra
abstrata/generalizante.
[...]
Em nenhum caso, o conhecimento esgotaria o fenômeno a ser conhecido
e a verdade total, exaustiva ou radical é impossível. Toda pretensão
à totalidade ou ao fundamento resulta em não-verdade.
-- 244
Acrescente-se que a operacionalidade lógica, limitada aos enunciados
segmentados, encontra limite no aparecimento do nó complexo dos problemas e ao
atingir as camadas primordiais da realidade.
[...]
Acabamos pois além do realismo "ingênuo" e do realismo "crítico", além do
idealismo clássico e do criticismo kantiano, num _realismo relacional,
relativo e múltiplo_. A _relacionalidade_ vem da relatividade dos meios
de conhecimento e da relatividade da realidade cognoscível. A multiplicidade
diz respeito à multiplicidade dos níveis de realidade e, talvez, à
multiplicidade das realidades. Segundo esse realismo relativo, relacional
e múltiplo, o mundo fenomenal é real, mas relativamente real, e devemos mesmo
relativizar a nossa noção de realidade admitindo uma irrealidade interna
a ela. Esse realismo reconhece os limites do cognoscível e sabe que o
mistério do real não se esgota de forma alguma no conhecimento.
-- 245
Pensa por ti mesmo, e o método te ajudará.
-- 251