Sat 30 Sep 2017 02:00:50 PM -03

  • Autor: Paul Feyerabend
  • Editora: Unesp
  • Edição: 1a
  • Ano: 2003

Geral

  • Viagens distintas: Odisseus e Sólon: descoberta e pesquisa, 252 (nota de rodapé).
  • Lógica e ilógica, 259-262, 265.
  • Participante/observador, 292.
  • Filosofia pragmática, 293.
  • Naturalismo versus idealismo, 299-300.
  • Razão versus prática, 301.

Conhecimento do conhecimento

  • Cap. 11: importante! Mas também temos que levar em conta que Galileu era Galileu e não um Zé Ninguém, que poderia ser prontamente chamado de lunático.
  • Descrição dinâmica de uma "seleção científica" envolvendo múltiplos fatores, por exemplo:

    Em suma: o que é necessário para submeter a teste a concepção de Copérnico é uma visão de mundo inteiramente nova contendo uma nova visão do homem e de suas capacidades de conhecer.

    É óbvio que tal nova visão de mundo levará um longo tempo a aparecer e talvez jamais tenhamos êxito em formulá-la em sua totalidade. É extremamente improvável que a idéia do movimento da Terra seja de modo imediato seguida pelo aparecimento, em pleno esplendor formal, de todas as ciências que, diz-se agora, constituírem o corpo da "física clássica". Ou, para ser um pouco mais realista, tal sequência de eventos não apenas é extremamente improvável, mas é impossível em princípio, dada a natureza dos humanos e das complexidades do mundo que habitam. Hoje Copérnico, amanhã Helmholtz -- isso não passa de um sonho utópico. Contudo, é somente depois que tenham surgido essas ciências que se pode dizer que um teste faz sentido.

    Essa necessidade de esperar e de ignorar grande massa de observações e medições críticas quase nunca é discutida em nossas metodologias.

    -- 164

Regras e princípios

Regular, irregular, regra: 213.

Mas nem as regras, nem os princípios nem tempouco os fatos são sacrossantos.
O defeito pode encontrar-se nelees e não na idéia de que a Terra se move.

-- 177

Miséria do racionalismo

A invenção de teorias depende de nossos talentos e de outras circunstâncias fortuitas,
como uma vida sexual satisfatória. Contudo, enquanto subsistirem esses talentos,
o esquema apresentado é uma explicação correta do desenvolvimento de um conhecimento
que satisfaz as regras do racionalismo crítico.

Ora, a essa altura, pode-se levantar duas questões:

1. É desejável viver de acordo com as regras de um racionalismo crítico?
2. É possível ter ambas as coisas, a ciência como a conhecemos e essas regras?

No que me diz respeito, a primeira questão é bem mais importante que a segunda.
De fato, a ciência e as instituições relacionadas desempenham um papel importante
em nossa cultura e ocupam o centro de interesse pra muitos filósofos (a maioria
dos filósofos é oportunista). Assim, as idéias da escola popperiana foram obtidas
generalizando-se soluções para problemas metodológicos e epistemológicos. O racionalismo
crítico surgiu da tentativa de entender a revolução einsteniana e foi depois
estendido à política e mesmo à vida privada. Tal procedimento talvez satisfaça a
um filósofo de escola, que olha a vida através dos óculos de seus próprios problemas
técnicos e reconhece ódio, amor, felicidade somente conforme ocorrem nesses problemas.
Mas, se considerarmos interesses humanos e, acima de tudo, a questão da liberdade
humana (liberdade da fome, do desespero, da tirania de sistemas de pensamento
emperrados e não a "liberdade da vontade" acadêmica), então estamos procedento
da pior maneira possível.

Com efeito, não é possível que a ciência tal como atualmente a conhecemos, ou uma
"busca pela verdade", no estilo da filosofia tradicional, venha a criar um monstro?
Não é possível que uma abordagem objetiva, que desaprova ligações pessoais entre
as entidades examinadas, venha a causar danos às pessoas, transformando-as em mecanismos
miseráveis, inamistosos e hipócritas, sem charme nem humor?

-- 215.

Racional e irracional

Meu diagnóstico e minhas sugestões coincidem com os de Lakatos - até certo ponto.
Lakatos identificou princípios de racionalidade excessivamente rígidos como a fonte
de algumas versões de irracionalismo e insistiu conosco para que adotemos padrões novos
e mais liberais. Identifiquei padrões de racionalidade excessivamente rígidos, bem
como um respeito geral pela "razão", como a fonte de algumas formas de misticismo
e irracionalismo, e também insisto na adoção de padrões mais liberais. Porém, ao passo
que o grande "respeito pela ciência" que tem Lakatos leva-o a buscar esses padrões
nos limites da ciência moderna "dos últimos dois séculos", recomendo colocar a ciência
em seu lugar como uma forma de conhecimento interessante, mas de modo algum exclusiva,
que tem muitas vantagens mas também muitos inconvenientes.

-- 225